[MEEF] Cartilha C.O.mbativa XXXIV ENEEF

Bom dia,

Com o intuito de contribuir para os debates existentes no MEEF a comissão organizadora do XXXIV disponibilizou uma cartilha que contém uma saudação a ExNEEF feita pelo Professor Máuri de Carvalho e textos sobre a falácia do pacifismo, sobre a precarização das universidades e os megaeventos esportivos, sobre a atual não-gestão do Diretório Acadêmico "26 de Junho" e anexos.

Esperamos que aqueles que divergem dos nossos posicionamentos se manifestem publicamente para que possamos travar o debate das divergências as claras e não nos bastidores por meio acordos e barganhas. Segue a Saudação do Professor Máuri de Carvalho.


AOS CAMARADAS E COMPANHEIROS DA EXECUTIVA NACIONAL DE ESTUDANTES DE EDUCAÇÃO FÍSICA, EU VOS SAÚDO!

Máuri de Carvalho


A presente saudação tem como elemento inicial a crítica e o combate que venho travando com a nova direita da educação física, tornada crítica generalizada impessoal a conhecidos e renomeados "intelectuais" da esquerda que se retiraram, cada vez mais, para perto da direita.

Com esmero procuro demonstrar a existência e a permanência na educação física e esportes de velhos discursos aqui e alhures apresentados pela nova direita como novéis fluindo de novidadeiras teorias da educação (física). Colocar na pauta a nova direita da educação física significa dizer quem ela é e como identificá-la.

A nova direita da educação física, a meu julgar, é uma estranha mistura ideológica e política de intelectuais fisiológicos, refugos da ditadura civil-burocrático-militar, com o novo oportunismo cujo pano de fundo é o compromisso claro com a política estratégica da classe dominante, notadamente a Reforma Universitária, contraditoriamente conhecida por Reuni. Por que contraditória?

Por que não dispõe de modo conjunto e nem agrupa pessoas, não reuni a tropa dispersa, não uni, desuni, torna esparso, separa, desorganiza a vida universitária e implanta a política hobbesiana da luta de todos contra todos.

Neste quadro escatológico a nova direita da educação física representa o conjunto dos mordomos diplomados da classe dominante. Intelectuais da educação física, com raríssimas exceções, envoltos com um espiritualismo insípido e com a pretensão delinqüente assumem a condição de cães de guarda do partido político no poder fugaz, acreditando-se estar acima do combate empreendido pelas classes sociais.

O coroamento dessas bobagens surge quando a nova direita ocupa o espaço do pensar e espalha a epidemia da capitulação em nome da democracia, geneticamente excludente. A nova direita, enfatizo, é composta por intelectuais assemelhados a "sereias excluídas da mitologia, histéricos cultores da auto-estima, [que] vivem embevecidos com o ridículo das árias atônitas de suas operetas bufas e com seus cantos de coro de gralhas. Zombam dos militantes e ativistas das lutas populares e sindicais" (SIQUEIRA, J. Nas barricadas do fim do século – a (des)ordem neoliberal. São Paulo: Anita, 1996. p.117).

Para racionalizar seus complexos de pigmeu, manipulam a linguagem e vazados pela cegueira, distanciados da lucidez, procuram impressionar os neófitos e incautos estudantes, enquanto olham com desdém a patuléia das assembléias vista como massa de manobra dos agitadores desocupados e irresponsáveis.

O que escrevem e discursam não mais se diferenciam das críticas perpetradas pela direita. Eis que seus comportamentos surgem como afirmação do passado contra o qual diziam lutar, pior ainda, seus aliados no presente são os seus adversários do passado. Todos eles esqueceram que um dia foram estudantes e que, como tal, alguns foram excluídos e coagidos quando se manifestavam contra os que os constrangiam e garantiam a sua exclusão dos processos decisórios nas universidades "públicas".

Não me surpreende que façam exatamente, com seus alunos, aquilo que condenavam em seus professores. Prepotência, a arrogância, pedantismo, charlatanismo e coerção são as "armas" usadas contra os jovens estudantes repletos de boa vontade e ingenuidade, inflados de ousadia e despojados na luta por um Brasil melhor. As "armas" da nova direita fluem da ignorância filosófica, da cegueira psíquica e, seguramente, do compromisso espúrio com a burguesia e, notadamente, com o redivivo Estado fascista, comandado por um governo lesa-pátria.

Penso que três temas são prementes e a exigir solução de continuidade neste período histórico da República burguesa brasileira quando práticas fascistas são colocadas de plano contra todos os que se levantam contra o Ogro capitalista:

Em primeiro lugar, tudo fazer para tornar público o disfarce com o qual há mais de dois séculos (iniciado em 1789) os capitalistas enganam e extorquem a classe trabalhadora.

Em segundo lugar, apontar os desvios reacionários praticados pela nova direita da educação física que, à frente de práticas fascistas, corrobora com a sentença de morte proferida contra as universidades federais pela gerência PT-Banco Mundial.

Em terceiro lugar, é necessário retomar a discussão política e filosófica sobre a possibilidade de construção do socialismo, etapa inicial da sociedade comunista. 

Não se pode perder de vista que a nova direita defende ainda que de forma envergonhada no interior das universidades públicas a possibilidade de superação do capitalismo via processo educacional. Com outras palavras, a educação continua apontada como única alavanca da transformação social; no bojo desse messianismo está a educação física como parte dessa alavancagem libertadora. Ora, a nova direita titubeia, tem medo de dar um passo atrás para dar depois dois passos à frente na erradicação do deliqüescente capitalismo.

Os "intelectuais" da nova direita (parafraseando Maximilien Robespierre) querem uma revolução sem revolução, uma revolução descafeinada. Na universidade é clara e notória a necessidade impositiva ou liberdade imperativa de superar as deterioradas coordenadas ideológicas ditas pós-marxistas, e erradicar a debilitante proibição de pensar como reflexo do seqüestro do contraditório que a burguesia e o Estado impõem.

A proibição de pensar não escrita, e a infame tentativa de proibir atuação de professores com tendências políticas e programáticas radicais, está em andamento nas universidades federais e na sociedade. Agravante: no bojo da esquerda tradicional a apologia não é apenas da "ausência temporária da utopia, mas a comemoração política do fim dos sonhos sociais" (ZIZEK, S. Às portas da revolução / escritos de Lenin de 1917. São Paulo: Boitempo, 2005, p. 174).

Os sonhos sociais foram trocados pela insana busca da objetividade científica estribada em critérios arbitrários, revelados como outro disfarce da proibição de pensar. Amaradas e companheiros da ExNEEF, há uma tese da qual jamais abrirei mão: a verdadeira liberdade de pensar ou significa liberdade para questionar o consenso democrático neoliberal dominante afirmador da acumulação do capital e de extorsão sobre a força de trabalho, ou não significa nada.

Da terrível proibição de pensar e divulgar o pensado deriva falácias e mentiras acerca de ser possível construir uma prática esportiva libertadora ou crítica e emancipadora, ainda que não se saiba quem será emancipado, nem muito menos de quem ou do que será libertado, para que será libertado e para onde caminharão os libertados.

A propósito, sobre o esporte emancipado / libertador uma única coisa é possível conhecer, os nomes dos pretensos libertadores ou defensores da liberdade e da transformação deste país a chutar bolas. A nova direita da educação encerra em seu ventre alguns adeptos de um desconhecido Iluminismo ou da Iluminação, mormente porque não conhecem Diderot, Saint-Just, Marat, Desmolins, Danton e Robespierre.

A nova direita nas salas de aulas ou em "laboratórios" comporta-se como capataz do capitalismo, coagindo, reprimindo, aterrorizando, ironizando e, grosso modo, de tudo fazendo para desqualificar a luta dos alunos que ousam desafiar a falsa autoridade daqueles que teimam em demolir a universidade pública.

A nova direita ao se calar, indiretamente se associa de forma criminosa aos corruptos e salafrários de toda sorte que achacam e privatizam os espaços públicos. Portanto, é imperioso trazer a público e exaustivamente debater sobre o descalabro em que o governo federal, a parte permanente do Estado – o sistema judiciário e as forças armadas –, o Parlamento cretino e a classe dominante estão a colocar este país.

No tocante a questão acadêmica, política e filosófica, há espaço exeqüível apenas para os "críticos" de Marx, Engels e Lenin. O cerco está a se fechar contra o panfletário, contra os escritos eversivos vazados de sentimento e que coloca na ordem do dia a denúncia da sociedade descomprometida com a vida e arraigada na morte.

Mas digo a todos os que lerem este pequeno ensaio: aquele que teme dizer a verdade por medo da morte, não é livre. E não é livre exatamente por ser escravo do temor da morte.

Devemos nos manter a postos e prontos ao bom combate à medida que permanecem nas universidades os velhos e os novos decrépitos da nova direita, guardiões do legado da ditadura civil-burocrático-militar e capitalista, a proclamarem invectivas contra o marxismo revolucionário e a predicarem a possibilidade da colaboração de classes, da mediação, da conciliação como caminho à "humanização" do capitalismo.

A propósito dessa questiúncula reacionária, ou seja, considero pertinente argumentar pela luta contra a democracia enquanto forma de governo tipicamente dominante nas sociedades capitalistas. Para Alain Badiou:

Hoje o inimigo não se chama Império nem Capital, Chama-se Democracia: Hoje, o que impede o questionamento radical do próprio capitalismo é exatamente a crença na forma democrática da luta contra o capitalismo (BADIOU, Alain. Prefácio à edição italiana in Metapolítica. Nápoles: Cronopio, 2002. p. 14).

Humanizar o capitalismo é o mesmo que tentar perfumar a merda! A nova direita não sabe o que diz; e tudo o que faz é assemelhado ao que faziam os reacionários de antanho. É preciso combatê-la e reafirmar o marxismo-leninismo como via à consecução da sociedade sem classes, justa, fraterna,m igualitária, comunista.

Face ao exposto, considero impreterível, premente reafirmar no momento delicado por que passam todos aqueles comprometidos com a edificação da sociedade comunista neste país e na América Latina, continuar a luta pela erradicação do capitalismo e da exploração do homem pelo homem. Mais que dantes, todos são alvo das defectivas oficiais, sem sombra de dúvida, um aspecto medíocre da perseguição política encetada por reacionários modernos, alguns foram companheiros de viagem.

Somos poucos, muito poucos, vivendo esparsamente este território gigantesco, procurando fazer contatos de primeiro grau sem, no entanto, lograr o êxito esperado, imediato.

A atual perspectiva é apavorante diante de um gigante paradoxal que se nega a morrer e na sua desesperada reação à morte iminente, a cada dia procura asfixiar todos e tudo a sua volta. Como uma abrupta anaconda procura enlaçar a todos, quebrando-lhes os ossos para, posteriormente, devorá-los por inteiro. Mesmo diante do efeito anaconda, é preciso seguir trilhando trilhas sem partilhas, trilhas que nos conduzem, seguramente, à fortaleza desejada onde, junto às sombras, a pequena semente nasceu e no esplendor da manhã cristalina a cidade sorrindo crescerá.

Esta certeza, de nós ninguém arrancará! E a depender de nós, a noiva direita não passará.



Rafael Carvalho Lages
Graduando em Educação Física, CEFD/UFES.
Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física, ExNEEF.


"Os trabalhadores não têm nada a perder em uma revolução comunista, a não ser suas correntes."
Karl Marx

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