COPA PRA QUE? DEMOCRACIA E SEGURANÇA PRA QUEM?
Nota de Repúdio da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa - ANCOP
Remoções de famílias; violência policial; repressão a ambulantes, trabalhadores informais e população de rua; corrupção; endividamento público; obras faraônicas; elefantes brancos; saúde e educação precária; exploração sexual; violação de direitos de crianças e adolescentes; falta de transparência e acesso à informação; elitização do esporte; leis de exceção; proibição de protestos e atividades culturais tradicionais.
A Copa do Mundo já começou! E isto não está sendo positivo para uma grande parte do povo brasileiro.
Desde 2010, a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (ANCOP) vem denunciando as remoções e as ameaças de remoção de cerca de 170 mil pessoas. Moradores e moradoras que sofrem a violação de direitos humanos em todas as cidades sedes de obras e projetos para a Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil.
Graças à luta das comunidades ameaçadas, com apoio dos Comitês e redes parceiras, já conquistamos vitórias importantes. Mesmo que isso tenha provocado a ira de governos, empreiteiros e agentes da repressão e especulação, a luta diminuiu as violações nas cidades e garantiu direitos. Porém, a gana da Federação Internacional de Futebol (FIFA), do Comitê Olímpico Internacional (COI) e dos grandes empresários - por privilégios e por utilizarem o megaevento para se tornarem os "donos das cidades" - voltou com força nesta semana.
FIFA não gosta de democracia
Primeiramente, o secretário-geral da FIFA, em mais um ato de ingerência e desrespeito ao povo brasileiro - e com a conivência do governo federal - enfatizou que Copa e democracia não "combinam". Lamentavelmente, a população brasileira vem aprendendo isso nos últimos anos, sofrendo diretamente o avanço do fundamentalismo e da repressão popular. Devemos, como integrantes do processo de construção do estado democrático brasileiro, repudiar sempre tais manifestações e ingerências em nossa soberania.
Festa de São João não!Logo em seguida, em Salvador - cidade que já teve as baianas e seus acarajés banidos pela FIFA do entorno da Arena Fonte Nova - recebe a informação que, em nome da "segurança" da Copa das Confederações, a tradicional festa junina de São João corre o risco de não acontecer. A mesma FIFA - que ganhou isenção de imposto e o direito de explorar os(as) trabalhadores(as) brasileiros(as) sob o eufemismo de voluntários(as) -, exige que todas as manifestações e protestos, direitos de cultura e expressão - centrais para a constituição brasileira - sejam suprimidas nos jogos.
Finalizando essa semana de ofensas, assistimos a violência e a repressão policial no Maracanã e entornos ao ato pacífico promovido pelo Comitê Popular da Copa e Olimpíadas no Rio de Janeiro. A mesma violência que violou os direitos indígenas na Aldeia Maracanã, que ameaça o direito ao esporte e à educação, com a tentativa de demolição do Célio de Barros, do Júlio Dellamare e da escola Friedereinch. Repudiamos expressamente essa repressão.
A coibição da manifestação justa, pacífica e democrática contra a privatização do Maracanã expressa mais uma vez que a política de segurança da Copa, visa criminalizar a pobreza e suprimir direitos centrais. Enquanto a segurança dos jogos é reforçada, a violação de crianças, adolescentes e mulheres ameaçadas pela exploração sexual continua evidente pela ausência de políticas específicas e recursos orçamentários.
A ANCOP repudia o avanço de leis de repressão, como o Porjeto de Lei do Senado (PLS) 728/2011; as declarações fascistas; a proibição das manifestações culturais; a criminalização dos movimentos sociais e a violência descabida contra o povo brasileiro.
Conclamamos o povo atingido a se rebelar contra esta Copa do Mundo que viola os direitos e favorece os interesses da FIFA, dos grandes empresários do capital e que está destruindo o direito à cidade.
São Paulo, 29 de abril de 2013.
sergio vaz
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