{ListaRepea} É O SISTEMA ECONÔMICO QUE DEVE MUDAR, NÃO O CLIMA

É o sistema econômico que deve mudar, não o clima

A saída para a crise ecológica surgirá da organização dos povos: a luta por um mundo sem devastação deve ligar-se à luta por uma sociedade sem exploração


A crise climática iminente com que hoje somos confrontados é uma grave ameaça à preservação da vida no planeta. Muitos trabalhos acadêmicos e políticos confirmaram a fragilidade da vida na terra ante a mudança de temperatura. Basta uns poucos graus para que seja causada - e já está a ser causada - uma catástrofe climática com consequências incalculáveis. O derretimento do gelo, a contaminação da atmosfera, a subida dos níveis de água do mar, a desertificação e a intensidade crescente dos fenômenos meteorológicos são todos a prova disso.
 
Agora é importante perguntarmo-nos quem e o que está a por detrás destas alterações do clima. Precisamos com urgência de desmascarar as respostas abstratas, que procuram culpar toda a humanidade. Essas respostas abstratas desligam a situação atual das dinâmicas históricas que emergiram da industrialização assente nos combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás), que provoca aquecimento global, e a lógica do capitalismo, que assenta na apropriação privada da riqueza e na conquista do lucro. O lucro à custa da exploração social e da devastação ecológica: estas são duas caras do mesmo sistema, que é o culpado da catástrofe climática.
 
Neste panorama, a Conferência das Partes (COP), organizada por vários governos e financiada pelas grandes empresas, confirma a responsabilidadae do capitalismo pela crise climática, promovendo acontecimentos vazios sem quaisquer resoluções eficazes ou capazes de resolver o problema. De fato, estamos a andar para trás, um recuo bem expresso nos ridículos “fundos verdes” que lucram abertamente com a poluição. Infelizmente, esta dinâmica é aprofundada através das atitudes apoiadas por muitos governos - facilitando a poluição e colocando os lucros das empresas acima do bem-estar das pessoas. Isto pode ser visto mais claramente nos países do Sul, e é por isso fundamental entender que a dinâmica deste sistema tende a atirar o fardo da crise ecológica global para cima dos ombros dos oprimidos e explorados da terra.
 
É vital sublinharmos a importância das diversas lutas sociais e ecológicas por todo o mundo, que propõem parar as alterações climáticas e a crise ecológica através da lógica da solidariedade. É importante ter em conta que muitos destes processos são lançados e liderados por mulheres. Sem dúvida, o cenário da América Latina serve de exemplo a esta mistura de resistência, auto-organização e processos de transformação, baseados em projetos que podem unir novas propostas e cosmovisões ancestrais. Podemos encontrar um exemplo nas lutas corajosas dos povos indígenas e camponeses do Peru, em especial a sua resistência ao megaprojeto mineiro Conga. Também é útil focar a nossa atenção na experiência do Parque Yasuni, que foi iniciativa dos movimentos indígenas e ecologistas para proteger uma grande região da floresta amazónica da exploração petrolífera, em troca de pagamentos dos países ricos ao povo equatoriano. O governo de Rafael Correa aceitou a proposta há vários anos, mas decidiu recentemente abrir o parque às multinacionais do petróleo, provocando enormes protestos. Outro caso é o dos projetos de desenvolvimento que o governo brasileiro tem procurado implementar, e que ameaçam destruir uma boa parte da Amazónia.  
 
Deste ponto de vista, há muito pouca esperança na COP20 no próximo mês de dezembro em Lima, Peru. Se há alguma porta de saída para as alterações climáticas e a crise ecológica global, ela irá surgir do poder da luta e da organização dos povos explorados e oprimidos, tendo em consideração que a luta por um mundo sem devastação ecológica deve ligar-se à luta por uma sociedade sem opressão ou exploração. Esta mudança deve começar agora, juntando as lutas singulares, os esforços diários, os processos de auto-organização e as reformas para retardar a crise, com uma visão centrada numa mudança de civilização; uma nova sociedade em harmonia com a natureza. Esta é a proposta central do ecosocialismo, uma alternativa à nossa atual catástrofe ecológica.
 
Mude-se o sistema, não o clima!
 
Assinam:
 
Argentina: Manuel Ludueña, Paulo Bergel.
Bélgica: Christine Vanden Daelen, Daniel Tanuro.
Brasil: Joao Alfredo de Telles Melo, Marcos Barbosa, José Corrêa, Isabel Loureiro, Renato Roseno, Renato Cinco, Henrique Vieira, Flávio Serafini, Alexandre Araújo, Carlos Bittencourt, Renato Gomes.
Canadá: Jonatas Durand Folco (Quebec), Terisa Turner.
Espanha: Esther Vivas (Cataluña), Jaime Pastor, Justa Montero, Mariano Alfonso, Teresa Rodriguez, Manuel Gari, Jorge Riechmann, Joaquin Vega.
Estados Unidos: Ariel Salleh, Capitalism, Nature and Socialism (Revue, USA), Joel Kovel, Leigh Brownhill, Qunicy Saul , Salvatore Engel Di Mauro, Terran Giacomini.
França: Christine Poupin, Dominique Cellier, Henrik Davi, Mathieu Agostini, Michel Bello, Michael Löwy, Vincent Gay. Laurent Garrouste, Sophie Ozanne
Grécia: Yorgos Mitralias, Panos Totsikas
México : Andrés Lund, Samuel González Contreras. José Efraín Cruz Marín
Noruega: Anders Ekeland.
Perú: Hugo Blanco.
País Basco: Iñigo Antepara, Josu Egireun, Mikel Casado, Sindicato ELA. Ainhara Plazaola.
Suíça: Juan Tortosa, Mirko Locatelli. Anna Spillmann, Félix Dalang

Enviado por: Instituto Aruandista

 
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