Boa tarde
Faz tempo que não me manifesto, mas gostaria de fazer algumas colocações nesta oportunidade.
Não quero pretender ter a verdade nem originalidade de nada, nem quero ser negativo, mas muitas vezes a sociedade incorpora os reclamos de diversos grupos e os desvirtua para fazer de contas que faz sem fazer nada, para deixar felizes os críticos mantendo o status quo, e acho que este é um ótimo exemplo disso, no processo de redução da EA a uma disciplina.
Acho que muita gente não percebeu ainda o tamanho do buraco em que a civilização se encontra. Acho que os problemas ambientais em verdade são sintomas de uma cultura doente. Assim, vemos todos os dias aberrações que parecem que já não surpreendem a ninguém, e mais, já poucas coisas nos surpreendem, parece que também temos perdido a capacidade de espanto. Um mundo onde os fins justificam os meios mais cruéis, um relativismo moral por meio do qual alguns países e grupos estão acima da lei, da ética e da moral dominante para alcançar seus objetivos ou realizar seus planos. Desta forma, tortura-se em nome dos direitos humanos; invadem-se países em nome da democracia; mata-se em nome da vida e a segurança; censura-se em nome da liberdade; e reprime-se toda manifestação democrática dos povos em nome da ordem social. Vemos desfilar nos nossos televisores imagens de um mundo de pernas para o ar, onde muitos países considerados desenvolvidos, em nome da liberdade ou da defesa dos direitos humanos, vivem da guerra, da usurpação e da morte.
Um mundo onde se privilegia o direito de informar sobre o direito a estar bem informado, como base fundamental do exercício da cidadania; permitindo que empresários inescrupulosos da comunicação mintam abertamente para a população, escondam noticias e inventem fatos para criar uma ilusão coletiva, em nome da liberdade de expressão, manipulando as interpretações sociais para promover seus próprios interesses.
Uma democracia retórica, já que na prática muitos representantes do povo legislam por causa própria defendendo seus interesses a plena luz do dia; governos que só se preocupam pela acumulação de poder, chegando ao extremo de tentar vender leitos do SUS a operadores privados, enquanto outros praticam corrupção com as merendas das crianças e com a compra de insumos hospitalares.
Assistimos à decadência moral da sociedade, fraudes bilionários, desvio de fundos públicos, abuso de poder, repressão continuada e judicialização da política; negligencias de governos que provocam desastres, alagamentos e morte; padres pedófilos corrompendo menores em santuários que deveriam proteger as almas; esquadrões da morte formados por policiais que deveriam oferecer proteção e segurança; setores que, sem o menor escrúpulo, comemoram a repressão policial, a tortura e o assassinato dos desajustados sociais, assim como as ditaduras militares de antanho; setores que acham que namorar com mulher negra é promiscuidade, que os gays estão doentes e não merecem ser respeitados, e que os pobres são pobres porque querem, porque são vagabundos e não gostam de trabalhar.
Nesta sociedade importa mais a aparência que a existência; a ostentação do consumo mais do que o próprio consumo e a homogeneização cultural mais que a aceitação das diferenças. Uma sociedade profundamente racista, que adere sem escrúpulos ao darwinismo social e a afirmação da identidade individual contra dos que são diferentes, aprendendo desde os primeiros anos de escola a abusar dos mais fracos.
No meio de tudo isso, a sociedade aparece estupefata, paralisada, confusa; perdeu a capacidade de reflexão e de ação. E, muitas vezes até a mesma esperança.
É verdade que vivemos uma crise possível de ser identificada na degradação da natureza, mudança climática, extinção de espécies, desmatamento, erosão, desertificação e perda de terras produtivas; poluição atmosférica, dos solos, das águas e do ar, chuvas ácidas, entre outros. Mas também é verdade que essa crise pode ser evidenciada na perda da qualidade de vida, na pobreza extrema, no empobrecimento gradual e na exclusão social, na saúde física ou na falta dela, nas mortes evitáveis, na escassa esperança de vida ao nascer; e na saúde psicológica, no sentimento de perda da dignidade, na violência social, na angústia, na depressão, nas dependências a drogas e no suicídio, no isolamento individual e no enfraquecimento das redes solidárias.
Estes são sintomas de uma cultura que perdeu o norte moral; sintomas originados nesta forma de ver o mundo, de interpretá-lo, e de atuar nele.
Como contribuir para a mudança deste cenário desde uma disciplina?
Entendo que a solução dos nossos problemas se encontra no campo da cultura. Sem que haja uma mudança cultural, a legislação mais lúcida, a tecnologia mais limpa, a pesquisa mais sofisticada não conseguirá encaminhar a sociedade no rumo da sustentabilidade; já que para isso se faz necessário uma mudança individual e coletiva de todos os cidadãos, uma mudança de visão de mundo, e do nosso lugar nele.
Entendo que sem formar uma sociedade genuína, verdadeira, transparente, justa, aberta às diferenças, ao erro, ao direito à informação de qualidade, ao respeito e ao amor, não temos como resolver os graves problemas socioambientais que vivemos.
Sem construir uma sociedade verdadeiramente democrática, através de uma cidadania crítica e participativa, não vejo condições de rumar para a sustentabilidade.
E para isso entendo que se necessita uma transformação profunda da educação, não de uma disciplina, da escola mesma.
Enfim me desculpem ja me estendi muito, mas se seguimos com este nível de concentração de riqueza por exemplo, onde 1% da população concentra mais riquezas que os outros 99%, como imaginar um mundo sustentável?
A meu ver uma disciplina lamentavelmente deixara a gente feliz fazendo de contas que estamos contribuindo sem realmente proporcionar as condições de uma verdadeira transformação social e cultural que possibilite rumar a uma sociedade sustentável justa e equitativa.
Abraços
Daniel
Em 5 de mar de 2016, à(s) 11:47, Kurupira do Mato <daniel.turi@gmail.com> escreveu:Que bom que os grupos de EA são tolerantes ao debate :)A grande maioria das demais listas ambientalistas não o são!!Viva a pluralidade de saberes!!Em 5 de março de 2016 11:36, Renata <renata.bio3@gmail.com> escreveu:Boa dia grupo!
Luciana, grata por expor os motivos contrários. Compreendi muito bem seu ponto de vista e concordo com o seu posicionamento sobre a questão da forma jurássica que estrutura a educação básica de forma segmentada. O ser humano está em constante transformação, como aceitar por séculos a mesma forma de ensinar? Contudo, acredito que esse é um debate amplo, complexo que não envolve somente EA, mas sim toda a política educacional que abrange todos os níveis de ensino, tanto para instituições públicas quanto privadas.
Creio que a educação é o nosso objetivo geral, sendo a EA o objetivo específico, lutamos pelos dois, claro, mas no momento quero inferir no objetivo específico da causa.
Dentro do contexto educacional que possuímos hoje, implementar a EA como disciplina, não proíbe a continuidade da transversalidade do tema, o PCN está aí há quase 30 anos garantindo o direito e a liberdade para que sejam abordados os temas sociais, ambientais, saúde e qualidade de vida de forma transversal, mesmo tendo disciplinas específicas que tratam dos assuntos, ou seja, professores e unidade escolar tem autonomia para desenvolver o processo de ensino aprendizagem na forma transversal e interdisciplinar.
"Ensino fragmentado em caixinhas disciplinares", devemos aceitar? Não. Porém, devido a essa extrema necessidade e urgência de tratar o tema EA, conquistar um espaço maior de tempo entre as disciplinas, com professores capacitados, não seria uma boa oportunidade de abordar o tema com maior relevância? Isso não significa que a interdisciplinaridade tenha que parar por isso, considero como um espaço maior para o conhecimento e conscientização.
Ou seja, será que enquanto não mudamos essa maneira primitiva de ensinar, introduzir a EA na grade curricular não seria uma oportunidade maior para desenvolvê-la?
As disciplinas de filosofia e sociologia no passado foram retiradas do currículo obrigatório, após muita discussão e reivindicação, essas disciplinas voltaram para a grade curricular (em 2006) tendo assim seu espaço garantido para os temas pertinentes. Como você citou, recentemente nossos jovens foram à luta contra a reorganização escolar que pretendia (e ainda pretende) fechar muitas escolas no Estado de S.P, aumentando assim o número de alunos nas salas de aula superlotando-as . Essas foram às reivindicações dos alunos que promoveram as ocupações nas escolas contra esses absurdos que Governo Estadual de São Paulo estava "impondo" para os estudantes e Ues .
E com certeza, essas disciplinas (sociologia e filosofia) e seus professores muito colaboraram e colaboram para as ações e reflexões sociais, inclusive neste movimento das ocupações nas escolas que aconteceu recentemente.
Será que um tempo maior, garantido para um debate sobre EA não causaria futuramente nestes jovens e consequentemente em suas famílias um sentimento e/ou reações favoráveis à preservação da vida?
Pessoal, é somente uma reflexão para o debate. Não tenho posição radical contrária à reivindicação de vocês, busco discussões justamente para formular minha opinião. Mas ainda não li nada convincente sobre assunto. A única coisa que tenho certeza é que Educação Ambiental precisa de mais espaço, seriedade e responsabilidade para o tema, é a arma que nós temos para modificar o comportamento social humano pautado no respeito ao nosso meio ambiente.
Abçs
Renata
"A responsabilidade social e a preservação ambiental significa um compromisso com a vida."Em 5 de março de 2016 10:55, Kurupira do Mato <daniel.turi@gmail.com> escreveu:Vanessa eu concordo profundamente com voce!É exatamente o que eu penso! O mundo mudou.Os pensamentos e leituras também precisam mudar!!!Como um professo de matemática conseguira ter uma abordagem bem feita sobre EA?É preciso muita formação para trabalhar corretamente EA.Saber geologia, história, geografia, ecossistemas, limnologia, climatologia, economia social, consumo, modo de vida, tecnologias de baixo impacto.É preciso ter gente qualificada para aplicar corretamente isto.Em 5 de março de 2016 10:52, Vanessa De Santis <vdsantis38@gmail.com> escreveu:Boa tarde, prezados !
Raramente me manifesto, mas lendo as valiosas argumentações de pessoas q admiro pelos trabalhos q exercem e algumas até pela personalidade q teem, gostaria de colocar duas situações :
O professor seja lá qual for sua disciplina recebe imensa pressão quanto ao cumprimento dos conteúdos e seus prazos , por esse motivo os temas tranversais ficam em segundo ou terceiro plano.
A disciplinarizacao da E.A talvez facilitasse.Acredito q o educador ambiental funcione como garantia e suporte aos outros professores. Ele ficaria a cargo de efetivar a interdisciplinaridade, podendo trabalhar em conjunto.Somando e não dividindo .
Já fui contra essa posição, mas cansei de ver ed amb transformada somente em informação ambiental. O vínculo q a escola proporciona entre ed e aluno é um fator a ser considerado a E.A. Deve fazer parte de todo o processo de construção do saber.
Imaginemos um projeto lindo de gestão ambiental dos resíduos produzidos na escola , nenhum professor com conteúdo a administrar consegue gerenciar isso com seus alunos .
Eu acredito ( posso estar enganado) que dê pra fazer a ponte .
Considerando que há municípios q se quer conseguem cumprir com o basico onde a E.A ainda é feita com um copinho, algodão e semente de feijão , vcs realmente acham q não seria um avanço ?
Gratidão por estar junto a vcs.
Abraços
Vanessa De SantisEm 03/03/2016 18:59, "Paulo Marco de Campos Gonçalves" <paulomarco1@gmail.com> escreveu:---------- Mensagem encaminhada ----------
De: luciana ferreira <luzinha_41@hotmail.com>
Data: 3 de março de 2016 15:12
Assunto: RE: {ListaRepea} reunião de hoje (1/3) no Senado - PL 221 (EA)
Para: REPEA lista <listarepea@googlegroups.com>
Boa tarde Repeanis!!!!Gente na boa, chega de fragmentação!Dizer que a gente consegue espaço para discutir EA disciplinando-a é um tremendo engano!Boa Henriqueta e Thaís!! Seguimos de todos os cantos contra mais um PL sem sentido!!Sou professora da educação básica há mais de 12 anos, entre sala de aula, secretaria de educação e trabalhos com comunidades em educação popular.... estamos mais do que cansados de viver em caixas, fragmentados por disciplina, matérias que não se encontram, que não se enchergam, sistema que só visa nota e avaliação externa, até quando vamos assisteir o desmanche da Educação Brasileira gente? Os meninos da escolas estaduais deram um banho de sabedoria em 2015, mostraram que amam a escola, mas estão cansados deste modelo falido, e com razão, porque nós também estamos cansados!Estes senadores querem mais é transformar tudo em sistema pra conseguir enxertar meia duzia de conteúdo e reduzir o nosso espaço para discutir educação, saúde, ambiente, clima, água, saneamento... e colocar gente na rua para enfrentá-los!Ontem revi uma atividade coordenada por Educardo Viveiros de Castro, chamada "os mil nomes de Gaia" que contou com Isabelle Stengers, Bruno Latour, Ailton Krenak, vcs devem ter acompanhado... a palestra dele "a revolução faz o bom tempo" nos ajuda a pensar dentre muitas coisas sobre este modo estranho que estamos vivendo, as crises, as reformas, a fragmentação... https://www.youtube.com/watch?v=CjbU1jO6rmEEm um trecho ele diz: "nunca foi possivel separar humanidade de ambiente, como não se trata de colocar um dentro e um fora, ou um ambientado e um ambientante" é isso aí gente a humanidade é essencialmente multipla e diferente, cultura não se separa de natureza. Educação ambiental é um tema transversal, interdisciplinar, esta é minha luta, esta é minha bandeira!beijos e abraçosLuciana
Date: Wed, 2 Mar 2016 09:33:58 -0300
Subject: Re: {ListaRepea} reunião de hoje (1/3) no Senado - PL 221 (EA)
From: renata.bio3@gmail.com
To: listarepea@googlegroups.comBom dia queridos repeanos
Faço a mesma pergunta do colega Kurupira.
Abçs
Em 02/03/2016 08:39, "Sheila" <sheila@paulofreire.org> escreveu:Henriqueta e Thaís, ótima articulação.
Contem com o apoio do IPF.
Vamos à luta!
abraços
Sheila
<Sheila_Ceccon.jpg>Em 01/03/2016 16:30, maria henriqueta andrade raymundo escreveu:
--Olá pessoal, boa tarde!Trago algumas informações sobre o andamento do PL 221/2015 que cria a disciplina específica e obrigatória de EA no ensino médio e fundamental.Como sabem hoje (01/03) às 09h30 estava prevista a reunião da Comissão de Meio Ambiente do Senado para votar esse PL, porém a presença mínima era de 9 senadores na sessão, mas só tinham 5.Por conta disso, uma hora depois a sessão foi cancelada devido à falta de quórum.Achamos ótimo, pois ganhamos mais tempo para articulações e outras ações que fortaleçam nosso posicionamento.Thais e eu, estávamos no plenário da Comissão para manifestar o posicionamento contrário ao PL. Diante do cancelamento da reunião fomos para as articulações junto aos senadores.Nesses diálogos, que tivemos, indicamos a REBEA com sua malha de Redes, o FunBEA, Oca, ANPPEA e alguns Coletivos Educadores dos quais fazemos parte. Ressaltamos, também, o parecer do MEC e MMA contrário ao PL.Dialogamos sobre as justificativas para a não criação da disciplina de EA com os senadores e assessores de Cristovam Buarque, Humberto Costa e Reguffe, que se colocaram a favor do nosso posicionamento e comprometidos a colaborarem para a não aprovação do referido PL.A reunião da Comissão de Meio Ambiente está agendada para a próxima terça-feira. Depois de passar por esta Comissão o PL segue para a Comissão de Educação que é terminativa, ou seja, toma a decisão final sobre a matéria. E temos a possibilidade do Senador Cristovam pedir a relatoria, o que nos favorece.Uma ação urgente e importante que podemos encaminhar, que foi sugerida nessas articulações é:
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--Daniel Kurupira"Se a galáxia é pura energia em suas multidimensões, e o equilibrio atômico é a grande verdade da vida, então que eu possa me sentir plenamente como uma partícula desta boa energia transformadora do meio. Viva a energia transformadora! Viva a boa energia, a energia do bem!""É fácil destruir, porque sozinho você é capaz de grandes feitos.É difícil construir porque apenas com muitas pessoas o sucesso é conquistado.
Entre o fácil e o difícil, fico com a dura construção coletiva.Dure o tempo que durar, estarei junto com todos na construção de uma nova realidade socioambiental."
"Até o presente momento, jamais foi encontrada VIDA fora do Planeta Terra. Isso nos lembra da rara biodiversidade que temos aqui em nosso Planeta, provavelmente, a maior valiosidade e raridade de todo o Universo! Qual é o preço desta Vida presente no Planeta Terra ?!"--Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "ListaRepea". É
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