[Profs Mat:8859] Novo número da revista Hipátia

A Revista Hipátia (hipatia.mat.br) publica nova edição. 

No último dia de 2018, como têm sido desde o primeiro número, publicamos mais uma edição da revista Hipátia. Neste dia, diferentemente dos anos anteriores, não há no coração dos brasileiros apenas os sentimentos comuns que costumam estar presentes nesta época do ano: alegria, amor, ansiedade, comoção... neste dia, por toda conjuntura política do país, além desses sentimentos, muitos brasileiros também estão sentindo medo, tristeza, apreensão e até pavor. Esses sentimentos que podemos chamar de ruins têm diversos motivos para estarem hoje presentes em muitos brasileiros; um deles em especial é de interesse desta revista e ele tem a ver com a religião. 

Já é de amplo conhecimento – ou talvez não tão amplo assim – que misturar política com religião pode trazer consequências, digamos, complicadas (eufemismo) para a sociedade. O exemplo histórico mais emblemático talvez seja a forte presença política da Igreja Católica na Idade Média. Naquela época, muitos "hereges" foram perseguidos, muitas "bruxas" foram queimadas. De todas as consequências desse "casamento", a destruição de obras consideradas profanas certamente é uma das que mais causaria a Hipátia, a figura histórica, tristeza: em sua época, fato semelhante ocorrera, tendo sido algumas obras salvas por ela própria. No filme Alexandria (Ágora) temos retratada a cena da destruição do templo Serapeum e da biblioteca que existia junto dele. A parte possivelmente mais comovente desse trecho do filme é a que mostra o desespero e a tristeza de Hipátia ao tentar escolher quais livros ela salvaria da destruição. 

A Idade Média e o fim do século IV e começo do V não guardam apenas a semelhança da destruição de livros, já que em ambas as épocas a religião tinha total relação com tal fato. No século IV, o Império Romano deixou de ser um Estado totalmente pagão para se tornar um estado misto, pagão e cristão. Desse conflito de crenças e do papel político do bispo da igreja de Alexandria, o patriarca Cirilo, resultou, dentre tantas questões, a destruição mencionada logo antes e, também, a morte da própria Hipátia, que foi esfolada viva por um grupo de cristãos. O motivo dessa trágica morte, grosso modo, tem relação com o fato de Hipátia ser uma pagã num Estado cada vez mais cristão, o Império Romano. 

Embora possamos estar tão distantes da Idade Média e, mais ainda, dos séculos IV e V, no ínterim dessas épocas e ainda hoje, em maior ou menor grau, a religião continuou/continua a exercer um forte papel político em muitos lugares do mundo. No Brasil, em especial, essa interferência têm se intensificado nos últimos anos. A Frente Parlamentar Evangélica, que inicioua legislatura de 2010 com 73 congressistas, em 2019 contará com 84, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Essa frente, chamada informalmente de Bancada Evangélica, foi responsável ainda pela indicação de diversos ministros no novo governo e também pelo veto a alguns nomes. Aliás, o presidente eleito tinha como slogan em sua campanha "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos". 

Se estamos ou não galgando os passos para nos tornarmos um estado teocrático em que cenas como as vistas em outras épocas se repetirão, só o tempo dirá. A revista Hipátia, até por conta da biografia da figura histórica que emprestou seu nome a ela, espera, no entanto, que o Brasil se torne de fato o estado laico que (ainda) preconiza sua constituição em seu artigo 5o. De fato porque, embora mais numerosas nos últimos tempos, não é de hoje que é possível notar contradições nessa suposta laicidade, como o ensino religioso em escolas públicas brasileiras, por exemplo.

A laicidade do Estado juntamente com a livre manifestação do pensamento, são princípios muito importantes para um periódico científico. Esses princípios, via de regra, garantem que assuntos religiosos não interferirão na ciência produzida pelo país, tampouco, por consequência, nos veículos que a divulgam. Graças a eles que pode-se falar de evolução das espécies, da Terra esférica, do modelo heliocêntrico, de doação de órgãos, de métodos contraceptivos, de feminismo e de tantos outros assuntos que esbarram aqui ou ali em uma ou outra religião, mas que são fundamentais para o progresso da Ciência e das relações humanas. 

Tudo isso posto abre esta edição da Hipátia o artigo de história da matemática Uma Contextualização Histórica para o Modelo Clássico de Malthus, que tem como um de seus panos de fundo o período histórico do Iluminismo, que foi um movimento intelectual e filosófico que defendia ideais centrados na razão, que incluíam a liberdade, o progresso, o governo constitucional e, ora vejam, a separação Igreja-Estado. Na sequência temos um artigo de educação matemática, um trabalho de iniciação científica de matemática e um relato de experiência: Invariantes Operatórios e Níveis de Generalidade Manifestados por Estudantes dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental; Programa On-line para o Estudo de Sistemas Lineares via Fatoração Lu; e Laboratório de Ensino de Matemática na Formação de Professores. Finalizamos a edição com as resenhas das teses de doutoramento O processo constitutivo da Resolução de Problemas como uma temática da pesquisa em educação matemática e Os Signos Peirceanos e os Registros de Representação Semiótica.

--
Para respostas muito específicas, por favor responda diretamente ao autor.
 
Para membros postarem neste Grupo: profmat@googlegroups.com
 
Para convidar novos membros e ver as contribuições deste Grupo: http://professoresdematematica.com.br
 
Nosso Grupo no facebook:
https://www.facebook.com/groups/profsmat/
 
Para receber um e-mail diário com o resumo das mensagens do dia, envie um e-mail para leo.akio@yahoo.com.br
---
Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "Professores de Matemática" dos Grupos do Google.
Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para profmat+unsubscribe@googlegroups.com.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

0 comentários:

Postar um comentário